Ouça o Poema Pescador de Bagres, de Saulo Ramos
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Livro: Fora da Lei (livraria Cultura) R$ 44,90
Na noite em que chovia muito e mais
eu voltava do rio
descalço, atravessando os milharais,
enrolado no frio.
Somente um bagre no embornal vazio
e o pavor da trovoada,
a noite havia me roubado o trilho
e me escondia a estrada.
Batia a chuva em minha face nua
tapas de minha mãe,
eu ia chegar tarde, em plena chuva,
sem peixe pra ninguém.
Cheguei, chorei, mostrei o embornal
e o meu pequeno bagre,
disseram que eu estar vivo era, afinal,
verdadeiro milagre.
Meu imultiplicado peixe espia
a gente que não o come,
que, por mim e por simples alegria
de me ver, perde a fome!
Encosto minha vara de pescar
ao lado do fogão,
durmo ao colo da minha mãe para sonhar
sem medo do trovão.
A chuva não me baterá jamais:
a manhã passará,
irei de novo ao rio e aos milharais:
um bagre só não dá.