ouça o poema Correspondencias, de Juliana Bernardo
por favor, não pare de me falar sobre você
nos ligamos – convites anelados
beijos são palavras abertas
eletricidade escapa, cabos se partem
em que parte te encontro?
não confie na memória
ela é um correio lotado de cartas brancas
não suspire
o tempo é corrosivo porque mora nos silêncios
de repente enferruja cartas cabos lábios
enferruja a gente
não é certo não é certo, suspiro
toques me despertam
mãos de prata como bandejas
e debaixo da mesa pernas encontram pernas
vamos arquitetar uma fuga com elas
arquitetar uma ponte e envelhecer sem segredos
temo que seja o fim da ligação
terrível enxaqueca
poupe os anúncios em branco
anúncios são convites malcriados
anoto na passagem: preciso de um mapa
nossa correspondência está aos pedaços
quem leu a última parte?
você sempre faz mapas quando está triste?
é o fim. Não confio na memória