Já que sentir vem Antes, de e. e. cummings


ouça o Pome Já que sentir vem Antes, de e. e. cummings
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Livro: Poem(a)s (Livraria Cultura) R$44,00

eeCummings     poemaseecummings

 

já que sentir vem antes
quem prestar atenção
à sintaxe das coisas
nunca te beijará completamente;

ser totalmente louco
quando há primavera

meu sangue aprova,
e beijos são melhor destino
que sabedoria
dama eu juro por todas as flores. não chores
– o melhor gesto do meu cérebro é menos que
o tremer de tuas pálpebras que diz

que somos um para o outro: então
ri, sem medo, em meus braços
pois a vida não é nenhum parágrafo.

e a morte (eu acho) não é nenhum parêntese

Pescador de Bagres, de Saulo Ramos – Projeto 332 Poemas No 12


Ouça o Poema Pescador de Bagres, de Saulo Ramos
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Livro: Fora da Lei (livraria Cultura) R$ 44,90

SauloRamos     foradaleisauloramos

Na noite em que chovia muito e mais
eu voltava do rio
descalço, atravessando os milharais,
enrolado no frio.

Somente um bagre no embornal vazio
e o pavor da trovoada,
a noite havia me roubado o trilho
e me escondia a estrada.

Batia a chuva em minha face nua
tapas de minha mãe,
eu ia chegar tarde, em plena chuva,
sem peixe pra ninguém.

Cheguei, chorei, mostrei o embornal
e o meu pequeno bagre,
disseram que eu estar vivo era, afinal,
verdadeiro milagre.

Meu imultiplicado peixe espia
a gente que não o come,
que, por mim e por simples alegria
de me ver, perde a fome!

Encosto minha vara de pescar
ao lado do fogão,
durmo ao colo da minha mãe para sonhar
sem medo do trovão.

A chuva não me baterá jamais:
a manhã passará,
irei de novo ao rio e aos milharais:
um bagre só não dá.

Névoas – de Fagundes Varella


Poeta romântico e boêmio inveterado, Fagundes Varella foi um dos maiores expoentes da poesia brasileira, em seu tempo. Tendo ingressado no curso de Direito (e frequentado a Faculdade de Direito de São Paulo e a Faculdade de Direito do Recife), abandonou o curso no quarto ano. Foi a transição entre a segunda e a terceira geração romântica.

Diria, reafirmando sua vocação exclusiva para a arte, no poema “Mimosa”, na boca duma personagem: “Não sirvo para doutor”…

Autor: Fagundes Varela
. .
Livro: Melhores Poemas
Poema: Névoas.
Editora: GLOBAL EDITORA
valor: R$ 35,00

Ouça o Poema Névos de Fagundes Varella

Névoas

Nas horas tardias que a noite desmaia
Que rolam na praia mil vagas azuis,
E a lua cercada de pálida chama
Nos mares derrama seu pranto de luz,

Eu vi entre os flocos de névoas imensas,
Que em grutas extensas se elevam no ar,
Um corpo de fada — sereno, dormindo,
Tranqüila sorrindo num brando sonhar.

Na forma de neve — puríssima e nua —
Um raio da lua de manso batia,
E assim reclinada no túrbido leito
Seu pálido peito de amores tremia.

Oh! filha das névoas! das veigas viçosas,
Das verdes, cheirosas roseiras do céu,
Acaso rolaste tão bela dormindo,
E dormes, sorrindo, das nuvens no véu?

O orvalho das noites congela-te a fronte,
As orlas do monte se escondem nas brumas,
E queda repousas num mar de neblina,
Qual pérola fina no leito de espumas!

Nas nuas espáduas, dos astros dormentes
— Tão frio — não sentes o pranto filtrar?
E as asas, de prata do gênio das noites
Em tíbios açoites a trança agitar?

Ai! vem, que nas nuvens te mata o desejo
De um férvido beijo gozares em vão!…
Os astros sem alma se cansam de olhar-te,
Nem podem amar-te, nem dizem paixão!

E as auras passavam — e as névoas tremiam
— E os gênios corriam — no espaço a cantar,
Mas ela dormia tão pura e divina
Qual pálida ondina nas águas do mar!

Imagem formosa das nuvens da Ilíria,
— Brilhante Valquíria — das brumas do Norte,
Não ouves ao menos do bardo os clamores,
Envolto em vapores — mais fria que a morte!

Oh! vem; vem, minh’alma! teu rosto gelado,
Teu seio molhado de orvalho brilhante,
Eu quero aquecê-los no peito incendido,
— Contar-te ao ouvido paixão delirante!…

Assim eu clamava tristonho e pendido,
Ouvindo o gemido da onda na praia,
Na hora em que fogem as névoas sombrias
– Nas horas tardias que a noite desmaia.

E as brisas da aurora ligeiras corriam.
No leito batiam da fada divina…
Sumiram-se as brumas do vento à bafagem,
E a pálida imagem desfez-se em — neblina!